segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Bonita camisa, Fernandinho!

Se tem uma coisa que eu aprendi cursando Publicidade e Propaganda é que a propaganda não é a alma do negócio. A propaganda em si não possui alma. Não serve propósito algum. Chamá-la de arte é inflar de sentido uma técnica explícita de enganação ardilosa sem significação alguma. Ser publicitário é morrer um pouco por dentro toda vez que uma campanha tem o aval do cliente. Se for propaganda de cerveja, então, morre-se três vezes mais rápido. O engraçado é que os caras acabam se achando tão importantes que quando o povo se apropria de bordões do tipo ‘não é uma Brastemp’ eles acham que fizeram um grande serviço social. Quer dizer, se a marca passou a fazer parte de uma expressão popular ela deve morar no coração de cada um desses brasileiros, verdade? Dificilmente. A lavadora de roupas aqui de casa tem vida própria e passeia pela área de serviço de tempos em tempos, assombrando os vizinhos. É uma Brastemp. A lava-louças mal seca os pratos e deixa os talheres mais sujos do que quando eles entraram. Pode crer que é uma Brastemp. O freezer? Solta água a torto e a direito e entope o escoamento uma vez por ano. Brastemp de novo [sim, nós caímos direitinho]. Agora, quando aparece a propaganda engraçadinha da mulher que tá pegando o personal trainer, ou da imbecil escabelada do pastel de vento, é pra rir ou é pra chorar? E quando aquela criança pervertida pede pra fazer cocô na casa do Pedrinho, porque lá ele pode espraiar um Gleid e acabar com o cheiro da própria merda, é pra achar engraçadinho ou é pra se envergonhar de estar cursando Publicidade? Porque eu entendo que o cliente chegou, passou o briefing, a criação quebrou a cabeça para chegar a essa solução maravilhosa, que passou a bomba pra produção, que teve que encontrar o menininho cagão homossexual, que passou a batata assando pro mídia, que teve a brilhante idéia de veicular essa pouca vergonha no horário do meu almoço, e a coisa ficou por isso mesmo. Mas será que a sociedade precisa da propaganda? A situação já não está difícil o bastante pra maioria? Então, pensem bem antes de se emocionarem com a menininha vesga que espera pelo irmãozinho enquanto a Adriana Calcanhoto enche os nossos ouvidos, ou com as criancinhas deficientes físicas que dizem ‘oi’ no final de cada propaganda de celular, uma pior do que a outra. Este é o meu conselho. Não é lá uma Brastemp, mas espero que sirva pra alguma coisa.

domingo, 11 de fevereiro de 2007

É fantastico! Plim.

Quando se pensava que o Fantástico havia atingido o ápice da escala do mau gosto dominical, eis que surgem, de repente, na tela da minha televisão, Zeca Camargo e Glória Maria, eu com fones de ouvido, prestando atenção na seriedade que ambos estampavam nos seus medonhos semblantes. De imediato afastei os fones, aumentei o som da TV e me preparei para o pior. Entra Fátima Bernardes, chapinha japonesa no cabelo, terninho enxuto impecavelmente liso, expressão de pesar no rosto. Começo a sentir cheiro de menininho arrastado por três bairros no Rio de Janeiro e já sinto repulsa. Meus temores se confirmam, e a querida Fátima, ela própria tendo expelido trigêmeos há um punhado de anos, convida os pais do menino a sentarem-se no sofá. O que segue são mais de cinco minutos do mais puro e repugnante jornalismo sádico, que mais pareceram 20 minutos ou meia hora, enquanto assistíamos [eu e a população brasileira] à Sra. Bonner iniciar a entrevista com aquela perguntinha básica: Você consegue lembrar exatamente como tudo ocorreu? Conte os detalhes para nós. Criancinha arrastada pra cá, criancinha arrastada pra lá, e aquilo tudo acaba nos levando ao clímax desta reportagem exclusiva: uma espécie de ‘violência no Brasil para leigos’ em menos de 1 minuto. Cruel.
As vezes eu penso em mandar estuprar a mãe de alguns repórteres, ir atrás com uma câmera e registrar tudo em vídeo, depois passar as imagens na primeira reportagem do Jornal Nacional, pra ver se é divertido estar do outro lado. Ou então mandar matar o filho deles, capturar as imagens do momento em que morreu, do velório e do enterro e fazer um compacto a ser anunciado com pesar pela Glória e pelo Zequinha nos primeiros minutos do Fantástico, só pra ver se eles gostam. E não me venham com esse papinho de apelo aos políticos ou qualquer outro tipo de baboseira da grossa. Não adiantou com a menina que morreu no primeiro dia em que andou de metrô sozinha, não adiantou com a família que morreu carbonizada dentro do próprio carro, também não adiantou quando o casal Bonner teve sua casa invadida por bandidos, e não vai adiantar enquanto a imprensa brasileira continuar enxergando a dor dos outros como um par de pontos a mais no IBOPE e, pior de tudo, saindo por cima como a heroína da história toda.