quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Viagem à terra do Papai Noel

Amanda da Silva e Nicole de Souza Eberle acreditam em Papai Noel. Aos 9 (nove) e 8 (oito) anos de vida, as meninas ganharam a promoção do Jornal do Almoço, viajaram para a Lapônia (ou qualquer que seja o nome da biboca onde mora o bom velhinho) e sobreviveram para contar a sua trajetória alucinógeno-infantil aos coleguinhas de aula. Mas voltando ao assunto, a pergunta que não quer calar é: as crianças hoje em dia ainda acreditam em Papai Noel e, caso a resposta seja afirmativa, qual a idade limítrofe para que isso seja considerado socialmente aceitável?


Em tempos onde, aos 12 anos, a maioria das meninas já estão amamentando e os meninos estão pagando pensão alimentícia, é factível que uma pirralha desdentada seja ingênua o suficiente para acreditar que um mascote da Coca-Cola, acima do peso, vestindo casaco de pele vermelho e branco em pleno verão e conduzindo um trenó movido a renas mágicas, vai descer pela chaminé do seu casebre no dia 25 e distribuir presentes de graça só porque há dois mil e poucos anos nascia uma criança bastarda em alguma pocilga lá em Belém?
O regulamento da promoção, que se restringia a crianças de 8 a 11 anos, era particularmente cruel. Basicamente, se o pobre infeliz conseguisse a proeza de passar pelo rigoroso processo de seleção, ele não só nunca mais acreditaria no Papai Noel como teria que iniciar com urgência um tratamento psiquiátrico avançado. Seguem alguns trechos do regulamento:
As crianças autoras das 10 (dez) cartas pré-selecionadas serão comunicadas por telefone e participarão de entrevistas e testes de avaliação, desenvoltura e comunicação em data previamente comunicada pela RBS TV.

Caso nenhuma criança atinja os padrões desejados nos testes e entrevistas realizados, conforme item 4.5., a Comissão Julgadora se reserva no direito de não selecionar nenhuma criança. A decisão da Comissão Julgadora é inquestionável e irrevogável, não cabendo recurso de qualquer espécie.
Logo, ou essas crianças acreditam mesmo em Papai Noel, ou as mamães e papais se aproveitaram do retardo mental de seus filhos para faturar passagens de ida e volta para a Finlândia. Ou as duas coisas. Mas quem sou eu pra reclamar? Provavelmente se essa promoção valesse para crianças de 22 anos, eu também escreveria uma cartinha dizendo 'Por quê quero visitar o Papai Noel.' Pena que eu só me fodo em entrevistas profissionais...

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Um 4 de novembro histórico (Parte 2)

Jornal do Almoço em HD pra quem? - Ontem à tarde, o ministro Hélio Costa esteve em Porto Alegre para assinar os termos de consignação dos canais digitais na cidade. Isso significa que a HDTV chegou, final e oficialmente, à capital gaúcha. Para comemorar (e para reassegurar a sua superioridade), a RBS TV - além de ter sido a primeira a liberar o sinal digital ontem mesmo - exibiu hoje uma edição especial do Jornal do Almoço, transmitida diretamente do Largo Glênio Peres em HD. Lasier Martins e cia., ainda visivelmente desinformados sobre a nova tecnologia, mostraram as belezas do nosso Estado em alta definição para o seleto grupo de telespectadores que compraram um conversor digital. O resto da população da Grande Porto Alegre ficou chupando o dedo e se perguntando: e daí?

Enquanto a emissora dos Sirotsky martelava os benefícios da revolução digital e como ela vai mudar a sua vida, a maioria dos gaúchos estava apenas estranhando o enquadramento errado e o fato de a câmera não chegar muito perto da turma da melhor idade *cof* Ana Amélia Lemos e Paulo Sant'anna *cof*. Foi um primeiro passo muito importante, e uma edição verdadeiramente histórica deste que é o telejornal mais tradicional do RS, mas a desinformação ainda supera a adesão por uma grande margem. Quando deparada com uma imagem em HD, por exemplo, a minha avó questionou: isto é a terceira dimensão? Ou seja, temos um caminho longo pela frente, sendo que o sinal analógico só será desligado definitivamente em 2016. A RBS, com o seu pioneirismo e farta verba, deu o tiro de largada para a corrida digital no Estado e está de parabéns, apesar de a NET não ter liberado o sinal da RBS TV HD a tempo de eu assistir ao Jornal do Almoço... Mas é a vida.

Um 4 de novembro histórico (Parte 1)

O presidente negro - Para aqueles que conseguiram ler o romance de Monteiro Lobato até o fim, meus parabéns. Lá depois da metade eu cansei da narrativa e desisti, mas li o suficiente para poder citar aqui e dar uma de bacana com o meu conhecimento de orelha de livro. Apesar de o autor fazer uma penca de previsões acertadas em seu visionário romance, irei me ater à mais óbvia e pertinente no momento.

Ontem, Barack Hussein Obama venceu as eleições em um pleito que nasceu histórico, já que, pela primeira vez, uma mulher e um homem afro-americano possuíam chances reais de concorrer e chegar à presidência do Império Americano. Se tudo der certo, e se os republicanos tiverem dificuldades em assassinar o pobre diabo até lá, em janeiro a Casa Branca passa a ser chefiada pelo primeiro presidente negro da história americana. É no mínimo emocionante observar o longo caminho que percorremos desde os tempos da escravidão e da segregação racial até este fatídico 4 de novembro de 2008.
'That's one small step for man; one giant leap for mankind', sentenciou Neil Armstrong no set de gravação do vídeo da chegada do homem à Lua. Quase quarenta anos depois, podemos parafraseá-lo para atestar a força simbólica desta eleição. Obviamente, a população americana votou pela redenção após oito anos de inferno; votou contra a infeliz escolha do partido republicano para vice-presidente; votou assombrada por uma crise financeira que sacudiu as bases da superpotência. Mas votou, acima de tudo, no candidato que fez a campanha mais limpa, mais concisa, e que acabou se tornando uma espécie de profeta da mudança da qual os Estados Unidos da América (e o resto de nós) tanto precisam.