domingo, 15 de junho de 2008

Coisas que me irritam no momento - Edição 2008

Venho a público pedir desculpas pela falta de atualizações, mas tenho ótimos motivos, e espero que entendam. Prometo não ficar mais um mês sem postar novamente, e aqui vai um tijolaço para que eu possa me redimir pelo descaso e pelos possíveis danos causados ao público leitor: uma relação de coisas que estão me incomodando muito, ou que me incomodaram nesses seis primeiros meses de 2008. A segunda metade vem lá em dezembro. Abraço apertado e um beijo da Xuxa em cada um dos seus corações!

Binóculos no sinal
e a minha avó
Vender balinha de goma no sinal: politicamente incorreto, mas ok. Vender santinho no sinal: aceitável. Vender kit de costura no sinal: vá lá. Vender mapa-mundi no sinal: Jesus Cristo Superstar! Agora, vender binóculos no sinal ultrapassa o meu conhecimento. Além da minha vó, que gosta de espiar os vizinhos pela janela em plena luz do dia, eu não vejo razão por que uma pessoa em sã consciência pararia na sinaleira pra comprar um par de binóculos de qualidade duvidosa por comodidade e preço baixo pra bancar o Rambo gaúcho classe E. Moderadamente irritante.

Sinal amarelo? Onde?
Quem dirige sabe que não tem coisa mais irritante do que a duração do sinal amarelo dos semáforos de Porto Alegre. Parece que o tempo entre o verde e o vermelho foi precisamente cronometrado para despertar o instinto suicida/homicida/genocida dos seres humanos gaúchos, transformando o temível 'amarelo' em uma espécie de limbo infernal. Ao invés de sinalizar 'atenção, o sinal vai ficar vermelho daqui a pouco, pessoal. Diminuam a velocidade', somos bombardeados com algo mais semelhante a um 'atenç...putz já ficou vermelho esse caralho do Satanás!' Não dá tempo nem de ser obrigado a passar no vermelho, nem de frear bruscamente pra evitar levar uma multa. Extremamente irritante.

Over the Rainbow versão remix do gordo havaiano
Ahh, O Mágico de Oz... quanta nostalgia, quanta saudade do tempo em que histórias envolvendo menininhas drogadas e espantalhos homossexuais passavam por entretenimento infantil. E quem não se lembra da musiquinha do 'aaaaaaléeeeem do árco-íriiis bla bla bla'? Pois é. Acontece que, passados uns 40 anos, veio um obeso mórbido havaiano e fez um cover dessa música, que acabou virando a trilha sonora de 349 entre cada 350 powerpoints enviados por pessoas desocupadas. Como se não bastasse, virou música de fundo de alongamento de academia, canção-tema de formandos sem noção, trilha de fundo de comercial de varejão, entre outros. Mortalmente irritante.

WC Repórter
A Web 2.0 trouxe coisas muito úteis e divertidas, outras nem tanto, e outras ainda que estão provocando a decadência da humanidade. Dentre elas, a praga do jornalismo participativo, obrigatório em qualquer portal de notícias atualmente. Pra refrescar a memória dos mais matusaléns, coisas como o 'VC Repórter' do Terra, o 'Minha notícia' do iG e o 'VC no G1' do G1 estão contribuindo para a destruição dos valores da sociedade e para a banalização da violência e da morte mundo afora. Quem não viu, nos momentos que seguiram à tragédia com o avião da TAM, as chamadas de 'você viu o acidente?', 'você chegou perto ou tocou em algum corpo carbonizado?', 'você estava dentro do avião no momento do impacto e saltou pela janelinha?', acompanhados de um singelo e estimulante 'mande suas fotos para a gente!'? É cruel demais, e tem que acabar. Decadentemente irritante.

Pimenta no... olho dos outros é refresco
O ego humano é coisa mais linda de Deus. Eu mesmo vivo aplicando testes psicológicos sem que as pessoas saibam, cujos resultados serão publicados no meu livro, que está no prelo. Mas posso adiantar que um dos testes mais irritantes é o da pimenta. O problema: as pessoas não gostam de admitir que sentiram a pimenta arder, mesmo que estejam lacrimejando abundantemente e criando uma hemorróida em tempo real bem na sua frente. Cada vez mais as pessoas estão perdendo a noção do ridículo em troca de reconhecimento social e dilatamento anal devido à ingestão excessiva de pimenta. Meu tio - que chocou uma geração inteira de primos ao alertar, durante um churrasco, que o salsichão era 'de romper o ânus' - é daqueles que vai colocando pimenta, e mais pimenta, e quanto mais as pessoas duvidam da masculinidade dele, mais ele vai contendo o choro e criando bico. Fatalmente irritante.

Hoje acordei com vontade de quebrar um paradigma!
O dicionário é o melhor amigo do homem, e não o cachorro, como se pensava no século passado. Ao contrário do amigo canino, que só come, dorme, caga e trepa na nossa perna, o amansa-burro não só reconforta energúmenos como previne os meus ouvidos de captarem frases como 'eu vou quebrar um paradigma', que eu tive o desprazer de ouvir mais de duas vezes nos últimos dois meses. Normalmente essa pérola é seguida por uma espécie de revelação bombástica por parte do nosso amigo quebrador de paradigmas, que, mal sabe ele, deveria estar recebendo um Prêmio Nobel ou algo que o valha, e não simplesmente destruíndo paradigmas a torto e a direito em uma roda de amigos como um reles mortal não-quebrador de paradigmas. Irrisoriamente irritante.