sexta-feira, 8 de dezembro de 2006

My humps, my humps, my humps, my humps, my lovely lady lumps. Check it out!

Quando eu era pequeno, a minha avó cortava a carne, mastigava bem mastigado, e de alguma forma (que Deus me permita nunca lembrar) colocava aquela gororoba pré-digerida direto na minha boca, sem questionamentos. Claro que, se alguém tivesse contado para a vigilância sanitária, hoje eu estaria escondendo maços de cigarro no ânus e visitando minha querida vovozinha no xadrez. Mas não foi assim que aconteceu, e isto continuou até alguma fase mais avançada onde meus dentes começaram a crescer (com a graça do nosso bom Deus) e se fortificar. Dispensável dizer que desenvolvi alguns traumas alimentícios por causa de todos os danos sofridos durante aquela época.
Fast-forward para os dias de hoje, eu já consigo me alimentar através da utilização de um garfo e de uma faca, mastigando cada um dos alimentos que o nosso Senhor colocou sobre a face desta terra (com os meus próprios dentes). Mas basta de histórias de velhinhas cruéis e traumas infantis. O que eu queria mesmo era fazer uma introdução para o assunto do consumo de cultura, meu povo. Dá pra acreditar?
Acontece que aquilo que a minha querida vovozinha fazia naquela época é assustadoramente parecido com o que a indústria cultural vem fazendo já há algum tempo. As pessoas perderam a capacidade de digerir por conta própria as músicas que ouvem, os filmes que assistem, os livros que lêem. Claro que isso, vindo de um pobre infeliz que ouvia Spice Girls e (Deus seja louvado) Britney Spears há uma quantidade não significativa de anos, pode parecer insanidade mental, mas ouçam bem.
Às vezes eu estou no carro (é sempre no carro!) e tenho que ouvir comentários que nenhum ser humano merecedor da vida que leva deveria ouvir. Se a música que toca no rádio não tem seu respectivo videoclipe no Disk MTV é um tal de “troca de rádio, pelo amor de Deus” pra cá e “que musiquinha ruim essa, hein Dani?” (porque a culpa é sempre minha) pra lá. Se eu tento introduzir novas alternativas de músicas de verdade, é uma avalanche de “bom esse teu CD, hein Dani?” além de imitações muito próximas da realidade por parte de minha querida irmã, que tem uma incrível versatilidade vocal que vai desde Joanna Newsom até David Bowie, passando por Björk e Sigur Rós. No cinema acontece coisa parecida. Se o filme recebeu treze quinquilhões de estrelas na Veja, então pode ter certeza que a sala de cinema estará lotada, e o filme vai ser bom mesmo. Não importa que os editores da revista tenham recebido uma estadia gratuita de uma semana nas ilhas Phi Phi ou mesmo que o elenco tenha sido emprestado de uma casa de prostituição infantil em Bangladesh. A literatura morre um pouco a cada dia, também. Se o livro do Paulo Coelho está em primeiro lugar na lista da Folha de São Paulo, deve ser um prazer inigualável de se ler e reler, mesmo que a pessoa precise passar por uma lobotomia para chegar até o final. Claro que eu nunca li nenhum livro dele, e só uso este exemplo por achar extremamente engraçado, de alguma forma.
Não estou aqui pra dar lição de moral em ninguém, porque do jeito que a mídia anda, é um tanto quanto difícil se ver livre de suas amarras. A diferença é que eu tento, enquanto muita gente (mesmo!) abaixa as calças, ajoelha e, pior de tudo, goza.

Um comentário:

Anônimo disse...
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