quinta-feira, 14 de setembro de 2006

Cinco real pra fazê caridade, rapá

Algumas pessoas nasceram para trabalhar. O que é ótimo pra elas, por sinal. Já eu me encontro tão longe desse grupo de gente que dá até dó. Às vezes eu paro durante uma manhã qualquer no estágio e me pergunto: será que a pessoa que encomendou este trabalho tem noção do nível de incompetência do infeliz em cujas mãos ele foi parar? Não sou pessoa de levar currículo e portfólio debaixo do sovaco. Nasci, entrei no jardim de infância, morri de tédio, cresci um pouco, mudei de escola, me arrastei por ensino fundamental, médio, longo, morri um pouco por dentro, me formei uma ameba sem chapeuzinho, fui pra faculdade, cresci mais um pouco e desenvolvi tendências criminosas em relação a alguns professores detestáveis. Que tal isso pra curriculum vitae?
Mas a coisa é mais triste do que vocês pensam. Dizer que eu caí de pára-quedas lá dentro do cubículo onde eu estagio é menosprezar a desgraça alheia. Caí foi de queda livre, sem capacete e com o cóccix virado pro chão. E o que é pior: no meu primeiro dia já me colocaram na frente do computador para criar um folder (Folder, meu povo! Aquele negocinho de dobrar que a gente usa pra comunicar as mais variadas coisas, conhecem?), sendo que eu não sabia nem desenhar uma linha reta no Corel (é difícil pra algumas pessoas). Brincaram com o fogo e a urina acabou se espalhando por toda parte: o resultado a gente vê por aí, mesmo que eu não revele o conteúdo de minha primeira obra-prima nem sob violenta tortura física e psicológica.
Por favor, não contem para ninguém, mas eu acho que Deus tem trabalhado através do meu corpo. Prova disso é que eu nunca fico sabendo como cheguei ao final dos trabalhos. Eu simplesmente fecho os olhos e me entrego à luz. Quando os abro, o layout está pronto e eu só mostro para quem quiser ver. E até que o Cara-lá-de- cima tem se mostrado um publicitário razoável.
Quando alguém chega e diz ‘ficou legal o teu trabalho, hein!’, eu penso comigo mesmo ‘ou esse filho-da-mãe tá tirando uma com a minha cara ou ele bebeu o líquido amniótico de canudinho quando nasceu’. Então eu rio por dentro. Depois choro miseravelmente. E tem sido assim todas as manhãs das últimas cinco semanas, sendo que o meu iPod é a única coisa que me impede de mandar tudo à merda e virar a mesa. Isso e o fato de eu precisar dessas 300h horas mais do que qualquer outro filho-da-puta lá dentro. Porque trabalhar com Corel 9 em 486 versão slide-show nem mesmo EU mereço.
Já dizia a baranga que chupou o velhinho e não recebeu nada em troca: “a minha vida é uma prostituição!”

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