sexta-feira, 12 de outubro de 2007

"Isso aí que tá cantando é a cria do demônio que inalou gás Hélio"? "Não, mãe, é a Joanna Newsom".

Joanna Newsom é o tipo de artista que tu nem se dá ao trabalho de indicar pros conhecidos: primeiro porque dá vontade de guardar esta preciosidade só pra gente, e segundo porque tu sabe que eles vão sentir ânsia de vômito na primeira (e, possivelmente, última) vez que ouvirem a voz dessa mulher. Sendo assim, a cena que eu presenciei neste domingo último ainda me traz desconforto: meu pai, minha mãe, minha irmã, meu cunhado e eu, todos no mesmo carro, indo em direção ao Santander Cultural para assistir ao show da Joanna Newsom.
E o que é que foi aquilo, meu Deus? Nada nem ninguém poderia ter me preparado para aquele show. Diante de uma platéia atônita, que ia desde Tatata Pimentel até o Clube da Geriatria, passando por uma gangue de emos e outros espécimes da fauna local, essa mulher fez um show irretocável, tecnicamente perfeito, que me fez sentir mal por ter pago apenas dez reais pelo ingresso. Começou com "Bridges and Balloons", que abre o seu CD de estréia, e que eu tentei filmar sem sucesso por estar tremendo de emoção. Depois cantou "Emily", engolindo um dos versos por engano durante a execução, deslize pelo qual ela se desculpou ao final da canção. E depois veio "Cosmia", "The Book of Right-On", "Colleen", a brutal "Sawdust and Diamonds", a minha não tão favorita "Peach, Plum, Pear", além de uma música novinha em folha, que compete com qualquer coisa que ela já escreveu até hoje. De arrepiar mesmo. E assim foi indo, até que ela cumpriu o velho protocolo do "vou ali atrás e já volto, mas não foi porque vocês aplaudiram".
E voltou. E sentou. E perguntou o que queriam que ela tocasse. "Sadie", gritavam uns. "The Sprout and the Bean", gritavam outros, recebendo um enfático "não, me desculpe" da rapariga. Quando gritaram "Only Skin", eu pensei comigo mesmo "coitados de vocês que a mulher vai cantar essa música, que é a minha preferida do Ys, e que tem 16 minutos de duração, e que é uma das coisas mais devastadoras já escritas". Eis que ela começa: "...and there was a booming above you that night". Bom, a partir daquele momento, até os dias de hoje, eu fiquei arrepiado em todos os lugares que têm a possibilidade de ficar arrepiados. E rezo para que ela volte pra Porto Alegre, o que pode acontecer, a julgar pela receptividade dela e do público, que aplaudiu em pé por mais de cinco minutos (minhas mãos sangraram). Minha irmã, que apelidou a Jo (pra não ter que escrever Joanna Newsom...bom agora eu já escrevi) de Pato Donald, ficou com vergonha de dizer que gostou. Meu cunhado (que ri descontroladamente toda vez que ouve "Peach, Plum, Pear") também. Meu pai e minha mãe, que não davam nem um peido pela mulher, viraram fãs. E assim é a vida. Uns gostam de Joanna Newsom, outros são idiotas, e os outros mentem.

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